Preparação para o Imprevisível
Como me preparo para uma descida do mercado? Tenho de vender? Felizmente não. No artigo exponho passos para te preparares para uma inevitável queda no mercado.
Olá!
Uma das maiores críticas da bolsa de valores é a possibilidade de perderes o teu investimento quando há um crash. Este é um risco sério e, muitas vezes, autoinfligido. Saber como lidar com descidas do mercado é crucial para ter umas finanças saudáveis e estáveis, e é exatamente disso que te vou falar hoje.
Em 2016, a CNBC previu que a recessão já havia chegado ao Estados Unidos. Não chegou.
Em 2017, tentou novamente, desta vez com apenas uma probabilidade de 60% e num prazo de 18 meses. Falhou novamente.
Já deves estar com a ideia onde quero chegar. Recessões são difíceis, senão impossíveis, de prever. Infelizmente, são também o momento onde investidores perdem mais dinheiro. O que fazer? Vamos ver.
O que é que posso fazer para me preparar para descidas?
Primeiro é importante perceber porque é que os investidores perdem dinheiro nas recessões. As razões são:
- Vender
É isso mesmo. As perdas só se concretizam quando se vende uma posição. Se não for vendida, pode recuperar o valor e até exceder, como acontece em vários casos.
Se é assim tão fácil, porque é que as pessoas vendem os seus ativos?
Uma das razões é a falta de segurança financeira. Uma recessão resulta no fecho de negócios, necessidade de reduzir a folha de salários, etc. Num cenário destes, alguns investidores poderão perder o emprego e, quando acabam as suas poupanças, só restam os investimentos, que os obriga a vender. Como muita gente está na mesma situação, a venda em massa causa a descida do mercado e os investidores veem-se obrigados a aceitar essas as perdas.
Outro motivo é mais psicológico. Está relacionado com o receio de perder o seu investimento e o facto do ser humano valorizar mais as perdas que os ganhos, fenómeno que é conhecido como aversão à perda. Esta tendência e a visualização da queda abrupta do mercado cria pressão na consciência do investidor para vender e “cortar as perdas”.
Segurança Financeira
A segurança financeira consiste na existência de um sistema de amparo em caso de imprevistos. A pandemia que atravessamos agora é um exemplo perfeito. É algo impossível de prever e tem um resultado catastrófico para a economia. Num cenário destes, o investidor pode perder o emprego, ter cortes salariais ou custos médicos inesperados. Estes fatores podem criar um grande problema nas finanças do investidor, principalmente se não estiverem preparadas para este género de perturbação.
Para contrariar esta situação, a melhor medida é estabelecer um fundo de emergência. Este fundo é constituído antes de investir e contém um montante suficiente para atravessar momentos negativos. O seu objetivo principal é evitar retirar o investimento da bolsa quando esta está em baixo, porque é aí que se concretizam as perdas.
Muito bem. Mas então quanto dinheiro devo guardar no fundo?
Para segurança do investidor, o fundo de emergência deve conter o suficiente para sobreviver durante vários meses sem rendimentos. O montante mais comummente indicado é o mínimo para viver seis meses ao custo de vida atual, mas cada investidor deve analisar a sua situação para decidir, tendo em conta fatores como segurança das fontes de rendimento ou a facilidade de obter capital de outras formas.
No meu caso pessoal, tenho um fundo de emergência para cerca de 5 meses. Apesar de ser abaixo dos 6 meses, considero a minha linha de trabalho bastante segura e que a demanda no mercado atual me permite arranjar outro emprego na mesma área sem dificuldade. Além disso, tenho sempre a possibilidade de reduzir gastos em bens não essenciais que me permitiria esticar o fundo por mais uns meses.
Esta alocação permite-me investir na bolsa de valores, sem perder sono com a possibilidade de vir a necessitar do dinheiro num futuro próximo, que é exatamente o objetivo de um fundo de emergência.
Tolerância ao Risco
“In the stock market, the most important organ is the stomach. It’s not the brain.” - Peter Lynch
Como diz Peter Lynch, a capacidade mais importante de investir na bolsa é olhar para os investimentos a descer a pique e ainda assim conseguir manter-se calmo e racional até passar a tempestade. Infelizmente, e por muito que queiramos, não há muito a fazer para prevenir estes momentos negativos.
Nos últimos 100 anos, os Estados Unidos atravessaram 15 recessões, que resulta numa média de uma recessão a cada 7 anos. Extrapolando, ao longo de 40 anos, o investidor terá de suportar o peso de 6 recessões. Podemos, então, concluir que ignorar os percalços do mercado não é viável e que o melhor rumo é integrá-los no nosso plano de investimento.
Um conceito útil para sobreviver uma recessão é entender que a relação entre o valor de uma empresa e o preço da suas ações é unilateral. Isto é, o valor intrínseco da companhia (o que produz, as receitas que obtém, etc.) afeta o preço, mas o preço não deve afete o valor.
Exemplificando: no dia 4 de março de 2020, o preço de uma ação da Coca-Cola estava a $59. Imagimenos que eu achava que era um bom preço e comprava uma ação. Passados 20 dias, o preço caiu a pique só parando nos $37,50, uma descida de 37%.
Agora pergunto: o valor da empresa desceu 37% em 20 dias? Não! Tudo bem que podem ter menos vendas este trimestre, e talvez até no próximo; mas quando os negócios reabrirem e as pessoas saírem de casa, as suas vendas voltarão ao normal e os seus lucros estibilizarão novamente.
Aliás, até podemos inverter o argumento: se eu comprei uma ação a $59 e achei que era um bom preço, o que acontece agora que está a $37,50? Saldos! Posso comprar 3 ações agora pelo preço de duas, 20 dias antes.
“The stock market is the only market where things go on sale and all the customers run out of the store.” - Cullen Roche
Por outro lado, também é possível que uma recessão tenha um efeito permanente numa companhia. Para fazer face ao mau momento, empresas podem ser obrigadas a contrair dívidas que decrescem substancialmente a sua segurança financeira, aumentando o risco do investimento. Neste caso, o mais sensato é reavaliar o ativo para decidir se é mais proveitoso reduzir a exposição ou se vale a pena manter o investimento.
Como já deves saber, muitos investidores perdem dinheiro na bolsa de valores e eu acredito que a melhor defesa contra isso é perceber o que se está a fazer, portanto, espero que tenhas aprendido algo com este artigo!
Se achaste interessante o conceito de psicologia aplicada ao investimento, recomendo o livro Thinking Fast and Slow de Daniel Kahneman, vencedor de um Prémio Nobel sobre economia comportamental, que expõe a irracionalidade do ser humano, sendo uma dos exemplos a aversão à perda.
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